X Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos

Dados do Trabalho


Título

CUIDADOS PALIATIVOS E DOENÇA RENAL CRONICA TERMINAL: O DIREITO DE RECUSA DE DIALISE - RELATO DE CASO

Apresentação do caso

Paciente de 64 anos, sexo masculino, com histórico de diabetes há 20 anos, com baixa adesão aos tratamentos médicos, evoluindo nos últimos 5 anos com falência renal e amaurose. Em 2022 apresentou episódio de urgência dialítica, sendo iniciada hemodiálise (HD). Recebeu alta, com proposta de hemodiálises regulares. Entretanto, após 3 meses de diálise, optou por interrupção das sessões. Passou 3 anos sem acompanhamento médico e em 25/03/24 chegou ao hospital em urgência diálitica, sendo levado ao CTI e iniciada diálise. É recebido em enfermaria em 02/04/24, melhor do ponto de vista do sensório, porém extremamente entristecido e insatisfeito. O paciente informou, em primeira abordagem, que durante vários anos de sua vida teve contato com pessoas em regime de hemodiálise (foi motorista de ambulância de HD durante 20 anos), tendo verbalizado que não desejaria se submeter a esse procedimento em sua vida. A equipe assistente, antes de interromper a diálise, optou por acionar as equipes de Psiquiatria e de Cuidados Paliativos (CP) para auxílio no caso e ajuda na tomada de decisões.

Discussão

A discussão sobre a recusa de diálise no fim da vida de um paciente com nefropatia avançada vai de encontro com o princípio ético da Autonomia, que baseia toda a prática em saúde. É direito dos pacientes consentirem ou não com decisões acerca de seu tratamento, devendo nesse sentido a família ser envolvida no processo. O desejo de obter um cuidado centrado no controle de sintomas, em oposição a um cuidado centrado em terapia modificadora de doença ou substitutiva de órgãos e funções, deve existir em todas as etapas do processo de adoecimento, sendo ainda mais intensamente recomendado em situações e procedimentos com alta carga de morbidade, como a hemodiálise.

Considerações finais

Retornando ao caso: a equipe de Psiquiatria pontuou que a decisão do paciente, embora fosse ratificada por falas prévias, poderia estar sendo influenciada por quadro depressivo atual. A equipe de CP, em conjunto com a equipe de Nefrologia, reconheceu a morbidade da terapia e a autonomia da decisão do paciente, que estaria de acordo com sua compreensão de dignidade e valores prévios. Optou-se pela suspensão da HD. O paciente faleceu em domicílio, 3 dias depois, junto de sua esposa, que se mostrou grata pelo respeito aos desejos do paciente.

Referências:
1) Imamah NF, Lin HR. Palliative Care in Patients with End-Stage Renal Disease: A Meta Synthesis. Int J Environ Res Public Health. 2021.
2) Código de Ética Médica: Resolução CFM nº 2.217

Palavras Chave

Autonomia no cuidado paliativo; bioética; Doença renal crônica

Área

Outras áreas

Instituições

Hospital das Clínicas da UFMG/EBSERH - Minas Gerais - Brasil

Autores

CRISTIANE VALERIA MOREIRA SILVA, FABIANO MORAES PEREIRA