Dados do Trabalho
Título
QUANDO QUEM DEVERIA CUIDAR ADOECE: RELATO DE UMA MULHER COM CANCER METASTATICO
Introdução
O assunto fim de vida é silenciado no modelo de sociabilidades, de interação e organização da sociedade ocidental. Toma o cuidado, cultural e historicamente, como papel da mulher, o que também se aplica aos cuidados no fim de vida.
Objetivo e Método
O intuito deste estudo é discutir o cuidado no fim da vida como um trabalho feito pelas mulheres e seu impacto para a mulher que adoece. A metodologia utilizada é o relato autobiográfico, a partir da relação de pesquisa participante com revisão de literatura especializada sobre a temática.
Resultados
O tema do fim de vida, como cuidado, é feito como um trabalho invisível e economicamente subvalorizado. Kergoat (2014) ressalta que todo o sistema de cuidados é imputado às mulheres. Por isso, na possibilidade de uma mulher adoecer, não há redes de cuidados que a proteja.
Conclusão/Considerações finais
Os estudos e a minha própria experiência demonstram que há uma dupla violência no tema dos cuidados. A partir da minha própria vida como pessoa com diagnóstico de câncer metastático, falo também como alguém que está no processo de adoecimento e precisa de cuidados. Assim, fui vivenciando e observando o desamparo de uma mulher, nos corredores de clínicas e hospitais, em tratamento de câncer. Minhas observações coadunam com o que aponta Gott et all (2020) mulheres são mais propensas a serem inscritas em cuidados paliativos. Elas relatam maior prevalência e gravidade de sintomas, como dor e fadiga, em comparação com homens. Entretanto, a dor das mulheres é subestimada, frequentemente atribuída a causas psicológicas e menos tratada com analgesia. Um relato de experiência como reporte de uma vivência acadêmica não é capaz de dimensionar como eu me percebo e me sinto abandonada em vários sentidos: falta de afeto, sororidade e empatia, dentre todos esses aspectos mencionados ter que viver distante de meu filho é a dor mais forte que sinto. Há também outro sentimento latente em mim, como somos educadas a existir a partir de nossa ofertada de trabalho, nos sentimos inúteis com o tempo de espera nos corredores das unidades de saúde. Os dados corroboram que a prática médica e a cultura machista intensificam ainda mais os efeitos devastadores do processo de adoecimento feminino. Por isso, o cuidado como processo no sistema de saúde é feito majoritariamente por mulheres. Neste caso, quando estas mulheres adoecem, as redes de cuidados cessam.
Referências
GOTT M, Morgan T, Williams L. Gênero e cuidados paliativos: um chamado às armas. Palliat Care Soc Pract (em inglês). 2020 Oct 15;14:2632352420957997. doi: 10.1177/2632352420957997. PMID: 33134926; PMCID: PMC7576896 (em inglês). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33134926/ acesso 11 de ago de 2024.
KERGOAT, Daniéle. Compreender a Luta das Mulheres por uma Emancipação Pessoal e Coletiva/tradução Michele redondo. In: Feminismo, economia e política: debates para a construção da igualdade e autonomia das mulheres / Renata Moreno (Org.). São Paulo: SOF Sempreviva Organização Feminista, 2014.
TRIPODORO, Vilma A. VELOSO, Verónica I. Veloso authors and affiliations. ‘Someone must do it’: multiple views on family’s role in end-of-life care – an international qualitative study. Palliative Care and Social Practice Volume 14 January-December 2020.https://doi.org/10.1177/2632352424126
Palavras Chave
Cuidado; Gênero; Mulheres
Área
Outras áreas
Autores
MÔNICA STREGE MÉDICI, ADRIANO BATISTA CASTORINO